Vivemos em um emaranhado de fluxos – de capital, de informação, de tecnologia, de imagens, de estruturas, um constante ímpeto pelo movimento que domina todas as esferas da nossa vivência. As grandes infraestruturas viárias aqui apresentadas são frutos desse poderoso desejo de movimento que, por muitos anos foi também sinônimo desenvolvimento, como o retratado em Fausto, célebre personagem goethiano, na sua defesa pela eterna caminhada rumo ao (falso) sentido de progresso.
Destes emaranhados de concreto e aço, com múltiplos níveis em diferentes direções, um caos geometricamente organizado emerge rasgando as tramas urbanas na busca incessante por priorizar os fluxos com menor impedimento e maior capacidade possível.
É fato que, a partir da difusão do automóvel como bem de consumo em massa, no início do século XX, as infraestruturas que vieram junto dele revolucionaram a forma como se mover criando uma nova escala dentro das cidades, assim como uma nova percepção com a paisagem em constante movimento. Projetadas exclusivamente como elementos de engenharia, com uma visão estritamente economicista ou especulativa, hoje, entretanto, deixam de significar crescimento e desenvolvimento urbano, dando lugar para reflexões sobre sua relação com a sustentabilidade.
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São estruturas entrelaçadas que, apesar de fascinantes em escala e proporção, representam objetos separados dos contextos onde estão inseridos, fragmentados em relação a sua inserção urbana. Uma condição que reforça o estereótipo da cidade genérica.
Dentre essa homogeneização dos processos de infraestruturação viária, percursos são estendidos e alargados configurando anéis concêntricos periféricos às grandes cidades, sempre motivados pelo fetiche do movimento que ainda deslumbra, assim como essas enormes infraestruturas vistas desde cima.